Ela acordou com o bipe do relógio digital, um ruído contínuo e agudo que feriu seus ouvidos como agulhas. Mas a primeira coisa que percebeu foi o aroma de café fresco no ar, não as horas que mostrava o relógio. Ela nem mesmo se atentou ao fato de nenhuma luz estar entrando pelas amplas janelas do quarto. E era como se nem a lua, nem as estrelas, ou as luzes da cidade, quisessem brilhar aquela noite. Não. Apenas o cheiro agradável de sua bebida favorita lhe interessava naquele pequeno momento.
Ela se levantou num movimento mecânico, colocou as pernas para fora da cama enquanto esticava os braços preguiçosamente e bocejava. Ela caminhou descalça pelo quarto, tateando o vazio na esperança de não esbarrar em nenhum dos móveis, ocultos na escuridão. Não se preocupou em acender as luzes, da mesma maneira que não se preocupou em desativar o despertador, que ainda tocava de um modo constante e irritante. Ela saiu do quarto pela porta meio aberta, que dava num pequeno corredor onde, no fim, ficavam a porta de entrada do apartamento. E a cozinha, pequena, que se fundia a sala.
― Alyssa ― disse uma voz suave vinda de onde estava o sofá ―, venha, sente-se comigo.
Alyssa, ela sussurrou para si mesma. Sim, aquele era seu nome.
Ela se levantou num movimento mecânico, colocou as pernas para fora da cama enquanto esticava os braços preguiçosamente e bocejava. Ela caminhou descalça pelo quarto, tateando o vazio na esperança de não esbarrar em nenhum dos móveis, ocultos na escuridão. Não se preocupou em acender as luzes, da mesma maneira que não se preocupou em desativar o despertador, que ainda tocava de um modo constante e irritante. Ela saiu do quarto pela porta meio aberta, que dava num pequeno corredor onde, no fim, ficavam a porta de entrada do apartamento. E a cozinha, pequena, que se fundia a sala.
― Alyssa ― disse uma voz suave vinda de onde estava o sofá ―, venha, sente-se comigo.
Alyssa, ela sussurrou para si mesma. Sim, aquele era seu nome.
Ela olhou em volta, não havia ninguém no sofá, ao invés disso, um homem, com óculos de armação escura, estava sentado aos pés da grande porta de vidro que levava a varanda. Na mesinha à frente dele tinha um livro aberto, lápis e uma caneca, cheia com o líquido escuro fumegante, cujo aroma a tinha feito sair de baixo das cobertas.
Alyssa se aproximou e se sentou ao lado dele.
― O que ― ela esticou a mão em direção ao livro, mas se conteve, e deixou que a mão caísse sobre as pernas expostas ― você está lendo?
O homem… Alyssa não se lembrava do nome…
Ele passou os olhos sobre ela, lentamente, ajeitou os óculos, e sorriu pegando o livro em uma das mãos. O fechou, e virou a capa para ela. PASTA, estava escrito em grande letras vermelhas, desenhadas com curvas delicadas.
― É um livro inglês sobre comida italiana. ― Ele fez questão de dar ênfase a última parte.
― Eu adoro comida italiana ― disse ela, honestamente.
― Eu sei.
Os dois se encararam por alguns instantes, em silêncio, olhando um ao outro diretamente nos olhos. Era como se pudessem ver os pensamentos que flutuavam na superfície de suas mentes através da íris.
De repente, Alyssa fez uma careta, como se estivesse com dor. Mordiscou o lábio, e puxou as pernas para junto do corpo, abraçando-as contra o peito.
― No que está pensando, Alyssa? ― Ele perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
― Estou me lembrando ― ela respondeu, tinha conseguido lembrar o nome daquele homem afinal ― de um sonho que tive, Gabriel. Você me disse que eu não passava de um sonho. Disse que eu não era real.
O homem deixou o livro cair, o bloco de folhas impressas simplesmente escapou por entre seus dedos, enquanto ele permanecia a observando, boquiaberto. Depois de quase 1 minuto em choque, ele deixou escapar um suspiro, profundo e exasperado. Pegou o livro e o colocou sobre a mesinha ao mesmo tempo em que arrumava as pernas em forma de borboleta. Ele ajeitou os óculos outra vez.
― Achei que já tivéssemos conversado sobre isso… ― disse ele olhando para o céu através do vidro perfeitamente transparente da janela. ― Sobre sua condição, quero dizer.
Alyssa seguiu os olhos de Gabriel para a janela, fixou-se no reflexo dele primeiro. Linhas na testa e bolsas sob os olhos, um sinal de que ele não vinha dormindo apropriadamente. A barba por fazer… Ela olhou para o céu. Só então percebeu que já era manhã.
A luz do sol, filtrada pelas nuvens carregadas de chuva, era cinza e doente. Os outros prédios da cidade pareciam fantasmas em meio à neblina. Ela se levantou.
― Minha condição ― ela disse, um pouco para si mesma. ― Sim, agora me lembro. Eu sou apenas uma ideia. Uma ideia sua, Gabriel. Mas você não pode me tornar real?
― Não posso ― ele pegou o lápis sobre a mesinha. Havia uma única folha em branco sob o livro, e ele também a pegou. Começou a desenhar alguma coisa, Alyssa ouviu o som do grafite cortando o papel, mas não se virou para ver. ― E mesmo se pudesse não tornaria.
Ela riu.
― Não? ― Ela perguntou com ironia.
― Não.
Ela se virou para ele, com um meio sorriso.
― É um mundo grande e solitário esse em que vivo ― disseram juntos. ― Você é minha única companhia.
Ambos sorriram, como se um fosse o reflexo do outro, e voltaram a olhar pela janela. Alyssa em pé, o rosto irreal quase tocando o vidro. Gabriel a desenhando enquanto bebia um pouco do café preto de sua caneca; era sua bebida favorita.
Ao fundo, o bipe infernal do relógio ainda tocava, gritante como a Morte se aproximando.
Alyssa se aproximou e se sentou ao lado dele.
― O que ― ela esticou a mão em direção ao livro, mas se conteve, e deixou que a mão caísse sobre as pernas expostas ― você está lendo?
O homem… Alyssa não se lembrava do nome…
Ele passou os olhos sobre ela, lentamente, ajeitou os óculos, e sorriu pegando o livro em uma das mãos. O fechou, e virou a capa para ela. PASTA, estava escrito em grande letras vermelhas, desenhadas com curvas delicadas.
― É um livro inglês sobre comida italiana. ― Ele fez questão de dar ênfase a última parte.
― Eu adoro comida italiana ― disse ela, honestamente.
― Eu sei.
Os dois se encararam por alguns instantes, em silêncio, olhando um ao outro diretamente nos olhos. Era como se pudessem ver os pensamentos que flutuavam na superfície de suas mentes através da íris.
De repente, Alyssa fez uma careta, como se estivesse com dor. Mordiscou o lábio, e puxou as pernas para junto do corpo, abraçando-as contra o peito.
― No que está pensando, Alyssa? ― Ele perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
― Estou me lembrando ― ela respondeu, tinha conseguido lembrar o nome daquele homem afinal ― de um sonho que tive, Gabriel. Você me disse que eu não passava de um sonho. Disse que eu não era real.
O homem deixou o livro cair, o bloco de folhas impressas simplesmente escapou por entre seus dedos, enquanto ele permanecia a observando, boquiaberto. Depois de quase 1 minuto em choque, ele deixou escapar um suspiro, profundo e exasperado. Pegou o livro e o colocou sobre a mesinha ao mesmo tempo em que arrumava as pernas em forma de borboleta. Ele ajeitou os óculos outra vez.
― Achei que já tivéssemos conversado sobre isso… ― disse ele olhando para o céu através do vidro perfeitamente transparente da janela. ― Sobre sua condição, quero dizer.
Alyssa seguiu os olhos de Gabriel para a janela, fixou-se no reflexo dele primeiro. Linhas na testa e bolsas sob os olhos, um sinal de que ele não vinha dormindo apropriadamente. A barba por fazer… Ela olhou para o céu. Só então percebeu que já era manhã.
A luz do sol, filtrada pelas nuvens carregadas de chuva, era cinza e doente. Os outros prédios da cidade pareciam fantasmas em meio à neblina. Ela se levantou.
― Minha condição ― ela disse, um pouco para si mesma. ― Sim, agora me lembro. Eu sou apenas uma ideia. Uma ideia sua, Gabriel. Mas você não pode me tornar real?
― Não posso ― ele pegou o lápis sobre a mesinha. Havia uma única folha em branco sob o livro, e ele também a pegou. Começou a desenhar alguma coisa, Alyssa ouviu o som do grafite cortando o papel, mas não se virou para ver. ― E mesmo se pudesse não tornaria.
Ela riu.
― Não? ― Ela perguntou com ironia.
― Não.
Ela se virou para ele, com um meio sorriso.
― É um mundo grande e solitário esse em que vivo ― disseram juntos. ― Você é minha única companhia.
Ambos sorriram, como se um fosse o reflexo do outro, e voltaram a olhar pela janela. Alyssa em pé, o rosto irreal quase tocando o vidro. Gabriel a desenhando enquanto bebia um pouco do café preto de sua caneca; era sua bebida favorita.
Ao fundo, o bipe infernal do relógio ainda tocava, gritante como a Morte se aproximando.